Quadro artístico
A cena é numa sala pequena e atravancada;
uma mesa redonda de livros empilhada,
um piano de um lado, e de outro um velador,
uma estante com livros, mobília multicor,
garrafas de cerveja, charutos e bolinhos,
cigarros sobre a mesa, o piano de mansinho
a gemer sob os dedos dum inspirado artista;
cinco sujeitos sérios, cravada e atenta a vista
no teclado que brota harmonias tristonhas,
ou então se alvorota em volatas risonhas.
No mocho a fronte erguida, um rapaz aloirado,
com um charuto na boca, olhar vivo, inspirado,
improvisa; distante, um outro, no sofá,
de mão no queixo, absorto, embevecido está.
Os cigarros apagam-se e esquecidos, e, frias,
no chão as cinzas caem ao som das harmonias.
Na secretária, um outro, escutando esses trinos,
escreve numa tira alguns alexandrinos.
Artistas todos são, e ali, naquela sala,
emudeceram todos; somente o piano fala.
Celso Magalhães, 1873
(1849-1879)
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