
"- Et de longs corbillards, sans tambours ni musique,
Défilent lentement dans mon âme; l'Espoir,
Vaincu, pleure, et l'Angoisse atroce, despotique,
Sur mon crâne incliné plante son drapeau noir."
Charles Baudelaire - Spleen IV
A marcha do terror que rege a vida
Em tortas harmonias de amargura
Conduz-me pros grilhões da treva escura
Por onde a salvação se faz perdida;
As tardes escorrendo no abandono
De nuvens tão pesadas rumo à leste
Reflete a face triste que me veste
No Sol que tanto anseia o eterno sono;
Já nascem pelos campos sonhadores
Dos céus da minha alma, mil estrelas,
Que tornam-se as estranhas caravelas
Levando todo nervo a um mar de dores;
Quimeras de esperança que eu nutria
Se tornam o negro anjo que, sem asa,
Com Chaga e com Delírio então se casa
E anseia tão somente a terra fria;
Cerúleos véus de noite se incandescem
Co'as flamas da agonia que florescem
Jardins de desespero e de tristeza,
São véus deste pesar que vive em mim
E encobrem-me na aurora do meu fim
Fazendo-me da Morte a nova presa.
Um comentário:
Bravos! Um perfeito revival da dialética solitária entre alma e espírito que marcou a poesia maldita de Byron, Poe, Baudelaire, Mallarmé e tantos outros. Sem mais palavras, meu caro. Abraços.
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