sexta-feira, 9 de julho de 2010

HORÁCIO - ODE XXX, III





Filho dum escravo liberto na antiga Roma, Horácio é conhecido por celebrar a vida. A temperança, a calma, o festejo, o vinho, o colher do dia: temas recorrentes em sua literatura. Inovando por revitalizar as odes em sua época, ele mesmo afirma na Epístola aos Pisões que todo poema deve ser, antes de tudo, bem trabalhado. Não era seu objetivo fazer poemas grandíloquos em temas e extensões - antes odes curtas e perfeitas. Para isso ele transpôs diversos metros gregos líricos (unidades de medida do verso) para o latim (as duas línguas baseavam-se num sistema de sílabas longas e breves, diferente da nossa), abrindo um novo caminho no que tange a poesia. Todo seu pensamento é condensado em duas palavras: carpe diem, expressão essa que ele mesmo cunhou na sua Ode XI, do Livro I. A ode abaixo é a XXX do livro III, vertida em português por antiga tradução de José Augusto Cabral de Melo, datada de 1853. Agradecimentos a Harvard College Library por dispor o livro.

Perfiz um monumento mais durável
que o bronze, e mais sublime
que as soberbas pirâmides,
o qual não podem as danosas chuvas
destruir, nem o Áquilo furente,
nem a série sem-número dos anos,
nem dos tempos a fuga.

Não morrerei de todo, grande parte
de mim há-de evadir-se
à cruel Libitina.
Crescerei sempre, nas vindouras eras,
de novo aplauso laureado, enquanto
subir ao Capitóilo o grão pontífice
co'a virgem taciturna.

Nas terras onde estrepitoso corre
o Áufido violento,
nas áridas campinas
de águas carecedores, onde Dauno
reinou potente sobre agrestes povos,
dir-se-á de mim, que, de uma baixa origem
tornando-me preclaro,

Fui o primeiro que os cadentes versos
apropriei eólios
aos ítalos acentos.
Toma a nobre altiveza a que, Melpômene,
te dá o direito o mérito supremo,
e favorável minha fronte cinge
com o délfico louro.


XXX
Exegi monumentum aere perennius
regalique situ pyramidum altius,
quod non imber edax, non Aquilo inpotens
possit diruere aut innumerabilis
annorum series et fuga temporum.
Non omnis moriar multaque pars mei
uitabit Libitinam; usque ego postera
crescam laude recens, dum Capitolium
scandet cum tacita uirgine pontifex.
Dicar, qua uiolens obstrepit Aufidus
et qua pauper aquae Daunus agrestium
regnauit populorum, ex humili potens
princeps Aeolium carmen ad Italos
deduxisse modos. Sume superbiam
quaesitam meritis et mihi Delphica
lauro cinge uolens, Melpomene, comam.

REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).