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Quisera estar vazia nesta noite,
sem ter em mim recantos de saudade,
sem ter veredas, nada que me açoite,
e a ruda dor que sempre assim me invade!
Quisera ser parede sem retrato,
sem telas, sem pinturas, sem enfeites,
ser ente bem vazio, só, abstrato,
ser lisa, nua, sem quaisquer confeites!
Quisera ser o vácuo, sem ter eco,
o vinho que, na taça, sugo e seco...
Quisera ser o nada deste instante!
Quisera! Neste meu penar disseco
a tua sombra que me vem constante,
morrendo-me d’ amor de ti distante.
3 comentários:
Mais um grande soneto! Que inspiração!
Que soneto! Encarnaste a esplendorsa Florbela Espanca, parece feito co'as mãos d'ela!
Sou um pajem nessa sua caminhada pelas letras. Além da construção perfeita do soneto, e as imagens fortes que estão sempre presentes em sua obra, o soneto nos deixa ver que a distância do ser amado nos desnuda, no faz nada. Por sua causa, Edir, me deu vontade de ler Heidegger, e é o que vou fazer.
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