segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Canto Real de Prata e de Ouro

"Redde caesari quae sunt caesaris", voltemos às formas antigas. O Canto Real, baseado em cinco estrofes de onze versos e um ofertório, não tem muitas raízes hoje em dia. Neste Canto Real, um amante põe a amada no topo do mundo - panegírico exorbitado, fruto de paixão - e também no conflito entre o ouro e a prata, onde, no final, os dois metais amalgamam-se, junto com o rubi, cá simbolizando o Amor.

CANTO REAL DE PRATA E DE OURO

Donzela argêntea, rico fruto puro
De altíssimas montanhas, pomo louro,
Errante zéfiro, esplendor vinduro,
De alvura e graça luzente tesouro.
Donzela amada de olhos pungentes,
Penetrantes arpões, tais inclementes
Inscrustaram-te em mim... Eu, navegante
Ébrio, dos mares e mares do soante
Netuno; eu, que jamais temi o abalo,
Jamais me abati ante ao pujante,
Diante de tua perfeição, me calo.

Riqueza em flor diante ao frio e duro,
Força sempre maior que o morredouro,
Amor que cintila em todo o escuro,
Meu único brilhante valedouro.
Riqueza minha, espalhe tuas sementes,
Faz crescer dentro em mim duas nascentes.
Sê meu sol, assim sou mundo orbitante,
Sem ti sou pobre cometa errante,
Sê anjo, amor, que serei o teu halo.
Eu que longe de ti sou tão falante,
Diante de tua perfeição, me calo.

Deusa que tem nas mãos o meu futuro,
Circassiana gema, amã mouro,
Deusa, nesse momento aqui te juro:
Perto de ti sou simplório calouro.
Teus olhos, cada vez mais comoventes,
Congelam as vis, infaustas, serpentes,
Teus olhos são de lume abrasante.
Eu, inseto insignificante,
Flutuante peixe perdido num valo,
Vejo tua aura quente e radiante:
Diante de tua perfeição, me calo.

Ninfa, onde, ao lado, só figuro,
Tal onça frente ao pequeno besouro,
Ninfa, ó ninfa idílica, asseguro,
Teu nome marquei: ferro em meu couro.
Cigana cartomante, a mim tu mentes,
Teus sorrisos lindos, quando ausentes,
Prendem-me em cela, é calor sufocante.
A mim tu mentes, minha cartomante...
Lê minha alma, o corpo, e num estalo,
Lê nela que, vendo-te, minha amante,
Diante de tua perfeição, me calo.

Vestal, de todo alva, branca, apuro,
De cândido luzir, digo-te; agouro,
Vestal, some em te olhar, tão obscuro:
Meu amor de rubi, prata e ouro.
Ouro, rubi e prata: tão fulgentes,
Ante a tuas mãos, marfins tremeluzentes,
Apagam-se no amiúde dum instante.
Graça maior: pensar em teu semblante,
Do mistério que carregas e embalo,
És límpida água, e eu, néscio turvante,
Diante de tua perfeição, me calo.

Oferta:

Donzela, tu, que rege este cante,
São teus estes simples versos que falo.
Não há maior razão que estar distante,
Para amar, donzela, e digo avante:
Diante de tua perfeição, me calo.


http://recantodasletras.uol.com.br/visualizar.php?idt=1887309

5 comentários:

Dora Dimolitsas disse...

EU TE ENTENDO MEU AMIGO
SIM O BADO É OTIMO,MUITO BONITO SEU SITE PARABÉNS UM ABRAÇO E FELIZ ANIVERSARIO
ABRAÇOS DORA

Febo Vitoriano disse...

Dora, o nosso bardo teen é fabuloso!
Continue nos visitando... quem sabe não realizamos eventos literários promovendo o blog e o estilo literário? VOlte mais vezes...

Febo Vitoriano disse...

Algumas perguntas ao poeta.


1- Gabriel, qual métrica usamos nisto? Pode-se utilizar galope também ou é só decassílabo?

2- O ofertório sempre possui 5 versos?

3- O ofertório é feito na mesma métrica dos outros versos?

4- A temática da fusão dos metais é algo próprio do canto real ou foi escolhida por vc?

5- Esquema de rimas?

Por favor, dê informações adicionais, dicas etc
Talvez uma postagem ajudaria.

Obrigado

Gabriel Rübinger disse...

Rommel, até onde sei:
1. Utilizar você pode qualquer uma. Mas é uma forma predominantemente parnasiana, logo os metros longos são preferidos.
2. O ofertório sempre possui cinco versos, comumente rimados em ccecE, eu é que mudei esse ofertório.
3. Sim.
4. Não, isso foi coisa minha, mas use se você quiser. É sempre interessante usar a fusão, a dualidade, esse tipo de tema.
5. As estrofes são em ababccddecE, E maiúsculo para o refrão que se repete. O ofertório é em ccecE, mas uma mudança, como nesse caso, sempre pode existir.

É um estilo exaustivo, que realmente nos deixa exauridos após a escrita. Uma dica é cuidar para acabar não forçando a rima nos últimos versos.

Espero que tenha ajudado, Febo!

Febo Vitoriano disse...

Que ótimo. Agradecido pelas suas respostas! Espero que nossos leitores possam ter contato com esta forma fixa. Poderias elaborar uma postagem sobre este assunto quando falarmos de Parnasianismo

REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).