segunda-feira, 5 de agosto de 2024

POEMAS



Desafio proposto no mês de junho de 2024 girava em torno da epígrafe viralizada de Machado de Assis. Escrevem os poetas abaixo acerca deste tema em formas diversas. 



VILLANELLA AO VERME


“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)


De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...

Eu tratei sempre a tudo e a todos com desdém!

E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...


Sempre alheio a qualquer pensamento profundo

Nunca me interessei no que não me convém!

De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...


Encontro-me perdido em abismo sem fundo

Enquanto me preocupo e penso em mim, porém!

E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...


Meu vívido memento é vivo e moribundo

Momento em que descrevo a vida que estou sem!

De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...


Conhecido no mundo e esquecido em submundo

Solitário em que fico e avanço mais além!

E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...


Em um mar de ostracismo eterno, eu me afundo...

Para sempre, tornei-me em nada nem ninguém!

De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...

E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...



(Bhrunovsky Lendarious)

 

-------------------------


DEDICATÓRIA

  

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)


Descido à cova, o corpo inerte meu

E os comensais, em tétrica corrida,

Apetitosamente vêm, no breu,

Devorarem-me os restos já sem vida.

 

Eu que vivi, de forma decidida,

Sem religião, completamente ateu,

Dedico a trajetória assaz sofrida

Ao verme que primeiro me roeu.

 

Aqui termina a insólita vaidade,

Na morte que me ceifa o orgulho vão.

Lanço-me  ao nada sem  contrariedade.

 

Meu corpo dado aos vermes. Pobre pão!

Sem Vida, sem Caminho, sem Verdade,

Sem recompensa de Ressurreição.

 

 

(Fernando Antônio Belino)

 

-------------------------


SONETO


“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)


Dedico a minha plena perdição 

ao amor que primeiro me tocou, 

e depois, num triste ato, me lançou 

sobre o nefasto fel desta ilusão...


Que sobre seu encanto me amarrou, 

deixando-me em favor da tal paixão, 

ficando apenas a desilusão... 

e dela, agora, enfim, nada restou!


Neste abismo de dor, eu me afoguei

no mar do amor que um dia já sonhei,

amar e ser amado!... Deixo a água


invadir meus pulmões completamente, 

pois jamais quero estar aqui presente... 

num mundo que me trouxe tanta mágoa!



(Alexandre Toledo)


-------------------------


SEXTINA


“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)


As tais lembranças do cadáver frio

que eu na lápide senti esse verme,

porém, se vivo à deriva, me esquivo

da cautela que o carma me previne.

Deparo no dever bem corrigido

o que, por erro, dado no existir.


Quando corrigido o ato no existir,

permite o darma no compasso frio

consequências úteis e corrigido,

e não seja roído pelo verme,

pois a cautela terrena previne

enquanto encarnado este corpo esquivo.


Se em nobre pensamento ainda esquivo

a ponto de viver bem e existir

com a temperança que o tempo previne

na permissão, temperamento frio.

Salvo corpo, salva alma deste verme,

regenerado neste corrigido.


Verve machadiana! Corrigido?

Na pena de Brás Cubas, não me esquivo,

sentida nesta epiderme entre o verme.

Pelos poros entrou para existir

um sentimento que fez quente ou frio

na poesia que melhor previne.


Poetar brilhantemente previne

angústia de Machado: corrigido...

até a perfeição: delírio e frio,

da máxima escrita, tal corpo esquivo,

com o belo d'arte n'alma existir

via cardíaca segue até o verme...


D’alma boa corpo vai imune ao verme.

Verve poética, que a dor, previne

na certeza dum eterno existir.

Rascunho feito fica corrigidos.

Eis o poema pronto, não esquivo,

seguir grandes vates no verso frio.


Eu na lápide senti frio verme.

Jamais esquivo, o carma me previne

corrigido tal erro no existir.



(Rogério Marques Sequeira Costa)


Nenhum comentário:

REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).