SOLAU***
Dário Vellozo
Eu sou o pajem de Dona Morte,
Loura de olhos monacais;
Eu rezo salmos a Dona Morte,
Sou o coral das catedrais;
Nos meus idílios flavesce a morte,
A morte - o vinho das bacanais.
Volvei os olhos de esperança
A um cavaleiro Rosa-Cruz;
Os vossos olhos de esperança
São liras de ouro, alvas de luz;
São pulvinários de esperança,
Valquíria astral da Rosa-Cruz.
No cinerário de meus sonhos
Arderam Silfos e Quimeras;
Em que sepulcros andam meus sonhos,
Ó peregrinos de outras eras?
Noiva, - sepulcro de meus sonhos,
Crisoberil das primaveras,
Eu sou o pajem de Dona Morte,
Entrei castelos e solares;
Seguindo os passos de Dona Morte
Subi a torres de sete andares.
Os belvederes de Dona Morte
Andam suspensos de meus olhares.
Andam suspensos de minha boca
Os nove arcanos da Alquimia;
Nos setiais de minha boca
Rezaram monjas noite e dia;
Jamais oscules a minha boca
Estrela da Alva da Nostalgia!
Deixa que mortos enterrem mortos,
Loura de olhos monacais;
A morte embala meus sonhos mortos,
Nas absides das catedrais;
A morte é a noiva dos sonhos mortos,
A morte é o círio das bacanais.
Deixa que mortos enterrem mortos,
Loura de olhos monacais!
Curitiba, agosto de 1898.
Dário Vellozo. Cinerário e outros poemas, Curitiba, Coleção Farol do Saber, Gráfica Lítero-Técnica, 1996.(págs. 156 e 157)
*** Solau - Composição bem antiga, da época anteclássica renascentista, de caráter melancólico e habitualmente acompanhada por música. Autores que a cultivaram: Bernardim Ribeiro,Sá de Miranda, Jorge de Vasconcelos, Gonçalves Dias, Almeida Garret, Carlos D. Fernandes (simbolista brasileiro). Poetas modernos como Manuel Bandeira e Mário Quintana, também, escreveram poemas com o título de Solau. (Informações retiradas do livro: Teoria Literária do Professor Henio Tavares - Editora Vila Rica, Rio de Janeiro/Belo Horizonte, 11º edição, 1996 - Págs. 302 e 303.)
Alguns solaus que conheço:
1) “Pensando-vos estou, filha,” - Bernardim Ribeiro - Século XVI (Classicismo);
2) Sextilhas de Frei Antão (Soláo do Senhor Rey Dom João e Soláo de Gonçalo Herminguez) - Gonçalves Dias;
3) Frei Luis de Sousa - Almeida Garret;
4) Solau à Moda Antiga - Mário Quintana;
5) Solau do Desamado - Manuel Bandeira (1943) - letra de música;
6) Solaus - Livro de Versos de Carlos D. Fernandes editado pela H. Garnier, Rio de Janeiro, Paris, [s.d] - livro raro. Soube de sua existência por causa de um catálogo de livros à venda que aparece no Livro Poesias de Goulart de Andrade, da mesma editora, do ano de 1907.
Sobre Dario Vellozo: nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se para Curitiba em 1886, cidade em que veio a desenvolver praticamente toda sua obra. Trabalhou no jornal Dezenove de Dezembro, cursou o Partenon Paranaense e o Inst. Paranaense. Em 1909 fundou o Instituto Neo-Pitagórico (numa construção imitando Templo da Grécia antiga - chamado de Templo das Musas) baseado em sua filosofia helênica que buscava revivências da festa da primavera. Foi fundador do Grupo Cenáculo junto com Antonio Braga, Silveira Neto (pai de Tasso da Silveira) e Júlio Pernetta (irmão de Emiliano Pernetta), principal grupo de poesia do Estado do Paraná. Editava ele mesmo seus livros e os anais do Instituto. Discípulo de doutrinas ocultistas, lia e divulgava as obras de Swedenborg, Saint-Martin, Papus, Stanislas de Guaita, Fabre d’Olivet, além do satanismo de Huysmans, a poesia simbolista em geral e Dante Alighieri. Tinha sempre em alta conta a poesia de Verlaine, Mallarmé, Baudelaire, Eugênio de Castro e Cruz e Sousa. Fundou a revista O Cenáculo (1895-1897) e participou de várias outras: Revista Azul, Esfinge, Ramo de Acácia, Pitágoras, Brasil Cívico. Obras: Poesia: Efêmeros (1890); Esquifes (1986); Alma Penitente (1897); Hélicon (1908); Rudel (1912); Cinerário (1929); Atlântida (1938).
Parte da biografia de Dário Vellozo retirei do site: Orfeu Spam - http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Simbolismo/Dario_Vellozo.htm - vale um passeio por lá para ler outros poemas do poeta.
Sobre Dario Vellozo: nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se para Curitiba em 1886, cidade em que veio a desenvolver praticamente toda sua obra. Trabalhou no jornal Dezenove de Dezembro, cursou o Partenon Paranaense e o Inst. Paranaense. Em 1909 fundou o Instituto Neo-Pitagórico (numa construção imitando Templo da Grécia antiga - chamado de Templo das Musas) baseado em sua filosofia helênica que buscava revivências da festa da primavera. Foi fundador do Grupo Cenáculo junto com Antonio Braga, Silveira Neto (pai de Tasso da Silveira) e Júlio Pernetta (irmão de Emiliano Pernetta), principal grupo de poesia do Estado do Paraná. Editava ele mesmo seus livros e os anais do Instituto. Discípulo de doutrinas ocultistas, lia e divulgava as obras de Swedenborg, Saint-Martin, Papus, Stanislas de Guaita, Fabre d’Olivet, além do satanismo de Huysmans, a poesia simbolista em geral e Dante Alighieri. Tinha sempre em alta conta a poesia de Verlaine, Mallarmé, Baudelaire, Eugênio de Castro e Cruz e Sousa. Fundou a revista O Cenáculo (1895-1897) e participou de várias outras: Revista Azul, Esfinge, Ramo de Acácia, Pitágoras, Brasil Cívico. Obras: Poesia: Efêmeros (1890); Esquifes (1986); Alma Penitente (1897); Hélicon (1908); Rudel (1912); Cinerário (1929); Atlântida (1938).
Parte da biografia de Dário Vellozo retirei do site: Orfeu Spam - http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Simbolismo/Dario_Vellozo.htm - vale um passeio por lá para ler outros poemas do poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário