EM VIAGEM
Na indolencia fatal desta vida de bordo,
A alma cheia do fel de atra melancolia,
Ouço em tudo o rumor de afflictiva elegia,
Emquanto os dias bons do passado recordo...
Muita vez, alta noite, em soluços, acordo...
Lá fóra a voz do vento, agoureira, sombria,
Anda a encher de pavor a alma da noite fria,
Cujo Mysterio ideal nos meus sonhos abordo...
Manso, o rio a rolar, tristonhamente, desce,
Reflectindo, por toda a extensão destas aguas,
A aurea trama que a lua entre as montanhas tece...
Deus! Que será de mim nesta viagem sem norte!
– Acordaram, de vez, todas as minhas maguas,
E esta saudade dóe como um frio de Morte...
Zito Baptista – Chamma Extincta, Rio de Janeiro, Edição do autor, 1918. (págs. 63 e 64) Raimundo Zito Baptista, poeta Piauiense, nasceu no povoado Natal, hoje município de Monsenhor Gil, em 16 de setembro de 1887. Adolescente, ele veio para Teresina com o irmão Jônathas Batista (1885 -1935), que depois se revelaria teatrólogo. Escreveu poesias desde moço. Fundou as revistas Cidade Verde e Alvorada. Mais sonhador ou romântico que o irmão, Zito entregou-se de corpo e alma ao poder embriagante da poesia. Por essa época, em Teresina, uma mocidade sonhadora dominava a cidade. Poesias, crônicas, cartas amorosas e os acontecimentos sociais que pudessem trazer alegrias ou tristezas ao meio eram traduzidos em versos por jovens poetas que se iniciavam em literatura. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1926. Amigo dos poetas Antônio Chaves e Celso Pinheiro, com eles estreou em livro em 1909, com coletânea Almas Gêmeas, cabendo-lhe a parte sob o título Pedaços do Coração. Monólogo de um cego é o seu poema mais conhecido. (Retirei do portal de Antonio Miranda – www.antoniomiranda.com.br – sua biografia, porque foram os únicos dados que obtive do poeta. Chamma Extincta não traz detalhes de sua vida.)
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