terça-feira, 4 de agosto de 2009

Elomar Figueira de Mello

Quem pensa que o trovadorismo morreu lá pelos anos da Idade Média, é porque não conhece Elomar Figueira de Mello, que é o tema da coluna de hoje.

O POETA E O MÚSICO

Elomar Figueira de Mello nasceu por ali mesmo, na Bahia, na velha casa da fazenda Boa Vista, em Dezembro de 1937. Descendente de hebraicos e de trovadores, de lá mudou para Vitória da Conquista três anos mais tarde, devido a frágil saúde do garoto Elomar; seus pais, trabalhando duro na cidade, voltam para o campo novamente, onde Elomar conclui o primário escolar.

Em 1954, Elomar vai para Salvador cursar o "científico", que abandona dois anos depois para servir o Exército, o qual retorna e completa em 1957. Cada vez mais enreda-se com a poesia e a música nos meios dali, o que o faz perder o vestibular de Geologia do ano seguinte, e, em 1959, passa no vestibular para Arquitetura, onde se forma, em 1964, quando retira-se de volta e definitivamente para o Sertão, onde começa a compor sua obra e tendo a Arquitetura apenas como suporte financeiro mínimo. 'Inda hoje vive pelas bandas do Sertão, com sua casa-fundação "Casa dos Carneiros".

Desde pequeno Elomar se interessou pela música rústica (até certo ponto, pois é algo que vem naturalmente) dos cantadores poetas do sertão. Suas primeiras composições datam de 7, 8 anos, quando, de noite, saía de casa às escondidas para assistir e aprender com os músicos.

Em 1960 lhe chegam ideias de trabalhos mais envergados, em comparação com as antigas cantigas que ia compondo. Nessa época, já havia anos e anos que era apaixonado pelos romances de cavalaria e pela cultura que ele define como "sertaneza". Elomar compõe então óperas, antífonas e galopes estradeiros, esses últimos, sinfonias compactas.

Elomar tem no seu currículo um caderno com pouco mais de 80 canções, 11 óperas, 11 antífonas, 4 galopes estradeiros, 3 concertos, 1 sinfonia e 12 peças para violão-solo.

O mais relevante, no entanto, em sua obra, é a capacidade de Elomar em combinar o que é folclórico, "de raiz", com o erudito, chegando ao universal com a linguagem regional, e tudo isso com enorme maestria.

Prepare-se para uma das maiores viagens da sua vida.

Das barrancas do Rio Gavião... (1972)

Faixas: 
01. O Violêro 
02. O Pidido 
03. Zefinha 
04. Incelença do Amor Retirante 
05. Joana Flôr Das Alagoas 
06. Cantiga de Amigo 
07. Cavaleiro do São Joaquim 
08. Na Estrada Das Areias de Ouro 
09. Retirada 
10. Cantada 
11. Acalanto 
12. Canção Da Catingueira

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E, como extra, uma letra de Elomar:

INCELENÇA PARA O AMOR RETIRANTE

Vem, amiga, visitar
A terra, o lugar
Que você abandonou
Inda ouço murmurar
Nunca vou te deixar
Por Deus nosso Senhor
Pena cumpanheira agora
Que você foi embora
A vida fulorô
Ouço em toda noite escura
Como eu a sua procura
Um grilo a cantar
Lá no fundo do terreiro
Um grilo violeiro
Inhambado a procurar
Mas já pela madrugada
Ouço o canto da amada
Do grilo cantador
Geme os rebanhos na aurora
Mugindo cadê a senhora
Que nunca mais voltou
Ao senhô peço clemência
Num canto de incelença
Pro amor que retirou.
Faz um ano in janeiro
Que aqui pousou um tropeiro
O cujo prometeu
De na derradeira lua
Trazer notícia sua
Se vive ou se morreu
Derna aquela madrugada
Tenho os olhos na istrada
E a tropa não voltou.


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REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).