ou Cena II ou Noite no Cerrado
caiu o minguante no espaço dormente,
banhando em pleno escuro o roçado.
o tempo é nubloso, sem vento, parado,
e um grande vazio cobre minha mente.
ao longe assovia do rio a nascente,
em frente num lento vagar algum gado.
no ar pairam lendas de um povoado
há muito sumido deste ambiente.
ossos no caminho, a seca emergente
levou todo o povo a migrar retirado.
talvez pela sorte ou humano pecado,
hoje essa terra sofre de enchente...
o pó da estrada, e a estrada somente.
o chão de tão seco parece dourado.
um austero arbustro me deixa assombrado:
foi bicho perdido, pousou de repente.
se foi tatu-peba ou pontuda serpente,
ou ave que agouro tenha assoviado,
não vi, fui-me em medo de ser mau-olhado,
que com essas coisas não se brinca gente.
caiu o minguante no espaço dormente...
vou num rumo incerto na brisa do fado
pra onde? não ligo, tão forte é o brado
que exala o silêncio dum campo ausente!
Nenhum comentário:
Postar um comentário