Diálogo com um coveiro
Estava ele sozinho, a cavar o chão
Quando o vi no Jardim Mortuário
Então pedi ao serviçal funerário:
'' Enterrai o meu coração!''
Ele olhou-me com indagação
Respondendo num tom de censura:
'' É vossa vida tão dura
Que queres enterrar o teu coração?''
Como um servo ao rei, em petição
Adiantei-me, com expressão piedosa
E insisti numa voz dolorosa:
'' Enterrai o meu coração!''
Desejando compreender a questão
Ele tornou a falar outra vez:
'' Criatura, o que é que te fez
Querer enterrar o teu coração?''
Dei-lhe a minha explicação:
'' Se meu amado a Morte levou consigo
A Dor encontrou em mim seu abrigo,
Enterrai o meu coração!''
Ele se põe absorto em meditação
Até afirmar com grande seriedade:
'' Tua alma será vazia de verdade
Se eu enterrar o teu coração...''
Não lhe fiz qualquer objeção
Apenas tiro do peito o tormento
E dou-lhe naquele momento:
'' Enterrai o meu coração!''
Ele o põe num pequeno caixão
Que vai à cova com meu adeus:
'' Descansem em paz, sonhos meus
Que à nada serve o meu coração!''
Um comentário:
Arrebatador!!! Ah, como eu adoro tristezas escritas por “eu” lírico feminino... Dão uma pureza e uma melancolia especiais às poesias que simplesmente a mim, deveras, são-me encantadoras!... E agora encerro este comentário em luto! A um coração incompreendido.
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