sábado, 13 de junho de 2009

Diálogo com um coveiro



Diálogo com um coveiro




Estava ele sozinho, a cavar o chão

Quando o vi no Jardim Mortuário

Então pedi ao serviçal funerário:

'' Enterrai o meu coração!''


Ele olhou-me com indagação

Respondendo num tom de censura:

'' É vossa vida tão dura

Que queres enterrar o teu coração?''


Como um servo ao rei, em petição

Adiantei-me, com expressão piedosa

E insisti numa voz dolorosa:

'' Enterrai o meu coração!''


Desejando compreender a questão

Ele tornou a falar outra vez:

'' Criatura, o que é que te fez

Querer enterrar o teu coração?''


Dei-lhe a minha explicação:

'' Se meu amado a Morte levou consigo

A Dor encontrou em mim seu abrigo,

Enterrai o meu coração!''


Ele se põe absorto em meditação

Até afirmar com grande seriedade:

'' Tua alma será vazia de verdade

Se eu enterrar o teu coração...''


Não lhe fiz qualquer objeção

Apenas tiro do peito o tormento

E dou-lhe naquele momento:

'' Enterrai o meu coração!''


Ele o põe num pequeno caixão

Que vai à cova com meu adeus:

'' Descansem em paz, sonhos meus

Que à nada serve o meu coração!''

Um comentário:

Encanto das Sombras disse...

Arrebatador!!! Ah, como eu adoro tristezas escritas por “eu” lírico feminino... Dão uma pureza e uma melancolia especiais às poesias que simplesmente a mim, deveras, são-me encantadoras!... E agora encerro este comentário em luto! A um coração incompreendido.

REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).