sábado, 25 de setembro de 2010

Cantiga da Lua Cheia

Ai de mim nessas horas

Que mira as estrelas e os astros noturnos

Tendo a lua cheia sua mais perfeita luz

Iluminando meu quarto soturno

Cheio de saudade e solidão


Apois São Jorge

Santo guerreiro, amado cavaleiro

Que em lua cheia com seu corcel

Valioso amigo e companheiro

Há de ter matado o dragão


Meu amigo ao longe

Tão qual guerreiro, amado cavaleiro

Veste vossa proteção em cruz vermelha

Montado em corcel ligeiro

E de lança na mão

Ó lua cheia de plena beleza

Levai minha prece a meu amor

Amigo de longe olhar


Ai de mim nessas horas

Que mira as estrelas e os astros altos

Tendo a lua cheia sua mais perfeita luz

Iluminando meu manto alvo

Sangrado e suado de solidão


Apois São Jorge

Santo guerreiro, valente cavaleiro

Que em lua cheia com seu corcel

Valioso amigo e companheiro

Há de ter matado o dragão


Mia senhora ao longe

Donzela de luta, arqueira sagaz

Carrega em seu peito uma chama

Que queima forte em prece assaz

E de terço na mão

Ó lua cheia de plena beleza

Levai minha prece a meu amor

Suserana de longe olhar


Amigo distante

Não vejo a hora de, ao longe, te ver

Em triunfal retorno sobre os mouros

Com tua flâmula ao vento se contorcer

Em sublime visão


E não tardes amado

Que aqui tua donzela te espera

Com mais que o peito na mão

Esperando-te acabar essa procela

Dentro do meu coração


Em prece solene

Não há em meu coração nada mais

Que, de meu amigo, o salvo retorno

Rogo-vos, Pai, que me torturastes demais

A meu amigo proteção

Ó lua cheia de plena beleza

Levai minha prece a meu amor

Amigo de longe olhar


Senhora distante

Não vejo a hora de, ao longe, ver

Tua imagem dama a me acenar

Com lenço branco no ar a volver

Em sublime visão


E não tardo amada

Mas aqui teu servo fiel batalha

Com mais que a espada na mão

Esperando acabar com o que me atalha

Matando até um dragão


Em prece solene

Não há em meu coração nada mais

Que, de mia senhora, às saudades

Rogo-vos, Pai, que já lutei demais

A mia luta compaixão

Ó lua cheia de plena beleza

Levai minha prece a meu amor

Suserana de longe olhar


Findo o embate

Retornam os cruzados, hospitalários

Nobres e servos de tantos reinos

Que caçaram ao longe seu salário

Em nome de Deus e oração


Só não vejo amigo

Coração mais que aflito o procura

Entre os rostos cansados e marcados

Por tamanha cobiça e loucura

Cadê meu coração?


Tende dó São Jorge

Que o avisto em maca dormindo ferido

Em vossas vestes templárias em cruz rubra

Acudo chorando meu amigo marido

Que tendes mia mão

Ó lua cheia de plena beleza

Levai minha prece a meu amor

Amigo de tão belo olhar


Findo o embate

Retorno cruzado a meu reino morada

Nobre de riqueza de longe terra

Para me casar com minha senhora amada

Que jurou-me a mão


Só não vejo suserana

Coração mais que aflito a procura

Entre as damas que esperam seus moços

Só não encontro igual formosura

Da dona de meu coração


Tende dó São Jorge

Que abro meus olhos em maca ferido

E vejo donzela chorando em cima de mim

Senhora mais bela que já tenha visto

Fazia-me uma oração

Ó lua cheia de plena beleza

Levai minha prece a meu amor

Suserana de tão belo olhar


Luciano Alencar (BOI)

2 comentários:

Filipe Cavalcante disse...

Belíssimo!

Febo Vitoriano disse...

Acreditem, esta bela cantiga do Boi, segundo estatística, é a postagem mais visualizada.

REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).