sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

SONETO: VERSO POR VERSO. Análise de cada um dos versos do soneto | Por Rommel Werneck

 



Como você começa a comer a coxinha? Pela base? Pelo topo? Alguns afirmam canonicamente que o feijão deve estar sobre o arroz, enquanto outros creem no inverso.


Como você começa a escrever seu soneto? Muitos alegarão que começa-se a redação pelo começo, na primeira linha. Mas quem lerá o texto não precisa saber ou se importar se começamos pelo final ou pelo meio. Eu tenho escrito vários sonetos a partir da chave de ouro ou da volta…

O texto a seguir é um estudo de cada verso do soneto, a função geral (poética, sintática, textual, coesiva, lógica) que cada um dos 14 versos ocupa. Também explico como eles podem ser escritos, estudos de possibilidades, técnicas, intenções que o autor parece ter buscado transmitir, são especulações acerca de como a Poemática pode ser desenvolvida. 


A presente análise tem metodologia plurilinguística e abrange tanto as variantes do soneto inglês como do petrarquino. Seguem algumas considerações pre-eliminares:


  • Não há necessidade de saber fluentemente as línguas estrangeiras para compreender o sentido lógico acerca da posição dos versos;


  • Por soneto petrarquino entendemos o modelo de duas quadras e dois tercetos (4+4+3+3). Por modelo inglês, entendemos três quadras e um dístico (4+4+4+2). Os dois modelos podem ser dispostos sem espaçamento (monostrófico e alguns exemplos assim o fazem) ou com espaçamento;


  • Sendo eu, o autor do estudo, um sonetista que escreve petrarquino e inglês, pós-graduado em Literatura Inglesa, prefiro a terminologia soneto inglês a “soneto shakespeariano” uma vez que há sonetos antes e depois do bardo de Stratford-upon-Avon. 


I - TÍTULO



A noção de título em soneto é recente. Até o século XIX utilizou-se largamente  o primeiro verso e o sistema de numeração como função de título. Os sonetos de Camões são conhecidos pelo seu primeiro verso, reconhecemos os sonetos de W. Shakespeare pelo algarismo arábico, os de Spenser são diferenciados pelo algarismo romano. Para facilitar a nossa vida, muitos antologistas atribuíram títulos a estes sonetos, mas não é uma prática autêntica. Alguns sonetos barrocos possuem um título com cara de rubrica teatral. O maior título que conheço é o soneto mais celebrado de Violante do Céu: Vozes de uma dama desvanecida de dentro de uma sepultura que fala a outra dama que presumida entrou em uma igreja com os cuidados de ser vista e louvada de todos; e se assentou junto a um túmulo que tinha esse epitáfio que leu curiosamente


Mesmo nos dias atuais, há quem escreva recorrendo a algarismos como título. O afro-americano Paul Laurence Dunbar escreveu somente um soneto, por isso, utiliza a palavra soneto antes do título, é um indicador de que o texto a seguir é um soneto, não é o mesmo caso dos sonetos temáticos de Vinicius de Moraes. Dunbar coloca: SONNET  ON AN OLD BOOK WITH UNCUT LEAVES. Ou seja, o poeta que escreveu várias baladas inseriu antes do título a palavra soneto para sinalizar, uma vez que é o único soneto que escreveu. 




II -  EPÍGRAFE



Epígrafes não são comuns em sonetos. Florbela Espanca é uma das sonetistas que faz uso delas. Consequentemente, Gioconda Labecca, uma das que bebe de sua influência, também recorre a epígrafes. 



1-  O MAIS INTRODUTÓRIO DE TODOS OS VERSOS


 

A tipologia descritiva costuma ser um bom elemento introdutório na prosa. Certamente o é também na poesia. O leitor pode reconhecer o cenário, as cores, as texturas de onde está entrando… Álvares de Azevedo imprime no seu verso inicial uma descrição pura, desprovida de narração: a donzela está pálida à luz da Lua, somente isto, mas é uma imagem interessante para começar o soneto. Além do mais, nos versos seguintes, a descrição continua. 






A narração também pode ser o ponto de partida, mas já acelera o raciocínio, já insere uma ideia, o ritmo lógico tende a ser mais rápido. Notem que no exemplo de Álvares de Azevedo não havia verbo. O exemplo abaixo, célebre soneto espanhol, começa com narração. Em suma, o que intenciono formular é que se Lope colocasse o primeiro verso no segundo quarteto o desenvolvimento seria mais lento. O que ele colocaria na primeira estrofe? Não sabemos, nunca o saberemos, afinal é um soneto perfeito e engraçado, mas temos o direito de formular hipóteses. 










É possível introduzir um soneto com a tipologia textual expositiva. O soneto mais conhecido do maior poeta da língua portuguesa inicia com uma definição, uma exposição de ideia do que é o amor. E, novamente, afirmo que este outro método também acelera a coesão e a coerência. Prejudica a beleza do texto? Em hipótese alguma, é o fato prático de que se houve já o desenvolvimento direto, não será fácil introduzir outro método. O estudo que estou realizando é pensado na distribuição de estratégias e no tutorial de soneto.





É mais ordinário numa introdução começar por hipóteses, condicionais como ocorre no soneto mais conhecido do maior poeta da língua inglesa: 





Ao longo do soneto, Shakespeare explorou a comparação entre o dia do verão e a amada: uma hipótese conduz o debate. 


Pode-se iniciar com o vocativo. António Nobre inicia seu soneto com vocativo (Ó virgens) e posiciona o imperativo relacionado ao vocativo (Cantai-me) na segunda e terceira estrofes. O texto segue num planejamento lógico. É interessante ter em mente na hora de escrever o que faremos nas estrofes posteriores. 






2. CONTINUAÇÃO DA INTRODUÇÃO 



O segundo verso pode ter uma revelação do assunto do texto, uma espécie de spoiler, o desenvolvimento da introdução. Mais uma vez reitero, não é recurso obrigatório ou proibido, é um recurso que fazem. Sabemos que G. G. de Avellaneda se refere a Cuba porque menciona o nome da ilha em seu segundo verso, não o faz no título ou em outro verso:




Renata Pallottini revela seu assunto no segundo verso de seu soneto inglês:




Se o soneto é uma releitura (paráfrase, paródia ou inspiração) em outro soneto, esperamos que os versos 1 e 2 mantenham certa identidade com o texto original. O soneto abaixo é releitura de “Eu cantarei de amor tão docemente” (Camões), a Marquesa de Alorna imprime semelhança no verso 2. 






3. VERSO MAIS DIFÍCIL DA PRIMEIRA QUADRA



Acredito que o terceiro verso seja o mais difícil da primeira estrofe. É nele que decidimos efetivamente o padrão rimático, se seguiremos ABAB ou ABBA, portanto, trata-se de um momento bastante racional. Gregório de Matos insere um adjunto adverbial de lugar em seu soneto sacro, um estratégia para preencher um espaço de sua longa frase favorecendo o hipérbato.





A flor mais bela de Portugal magistralmente usa três frases na mesma quadra. Convenhamos: um percurso difícil!



O dilema do terceiro verso reaparecerá quando estudarmos o sétimo verso. 



4. FIM DA INTRODUÇÃO


Tecnicamente, a introdução morrerá no último verso da primeira estrofe. O Cisne Negro catarinense finaliza sua primeira quadra com palavras que provocam amplitudes, daí o desenvolvimento a partir do quinto verso se dá pela noção de grandezas. 





O quarto verso do soneto mais praieiro de todos os tempos abriga a conjunção coordenativa adversativa MAS que direciona o desenvolvimento num caminho de incerteza e contradição. Isto significa que o fim da introdução norteia o desenvolvimento. 





Mas, nem sempre a transição entre o verso 4 e o verso 5 se dá de modo tão bem delimitado. O exemplo abaixo é um soneto monostrófico, o que muito provavelmente favorece a presença de um cavalgamento unindo o quarto e o quinto verso. O objetivo do soneto mais nova-iorquino de todos é enaltecer a mulher que está de pé segurando a tocha sobre os dois rios e, magistralmente, Emma Lazarus faz isso!





5. O VIGOROSO VERSO DO DESENVOLVIMENTO



Continuando, sobre o soneto da Estátua da Liberdade, o seu quinto verso possui uma relação de dependência direta com o quarto verso. Não foi um percurso fácil e que agrada a todos. Contudo, é no verso 5 que a estátua brilha, é nele que está o auge do soneto. 


Alguns autores começam a dificílima segunda estrofe com a mesma palavra apresentada no primeiro verso. O verso 5 é, portanto, parecido com o verso 1. Paulo Bonfim gosta desta rota: 






É possível escrever sonetos em diálogos colocando uma fala de personagens nas estrofes. Em um belo soneto, Augusto dos Anjos introduz uma personagem no quinto verso: o filho. Trata-se de um bom recurso na redação e todos os recursos que menciono ocorrem também em outros autores.  





6. O DESENVOLVIMENTO DO DESENVOLVIMENTO



Acredito que a segunda estrofe seja a parte mais difícil do soneto, sendo assim o sexto verso ocupa um papel muito centralizador. No soneto As Plantas, Jorge de Lima usou apenas duas frases na primeira estrofe, tendo o verso 3 introduzido uma frase. Mas na segunda estrofe o verso 5 abriga uma rápida frase exclamativa, o verso 6 inicia uma frase que só termina nas reticências do verso 8. O sexto verso precisou desenvolver mais que o quinto verso. Concordam?





No soneto mais antirromântico da Literatura Portuguesa o sexto verso expressa verbos no imperativo continuando o vocativo do verso anterior. Assim, Antero de Quental conduz uma parte difícil:







7. O MAIS DIFÍCIL DOS VERSOS



Em minha modesta opinião como sonetista, os versos 6, 7 e 8 são os mais difíceis de redigir.  Se o terceiro verso necessita de alguma artimanha sintática para continuar, o sétimo também segue tal padrão. No exemplo de Florbela e Gregório, alguma coisa sustentou o verso 3. Assim como uma prateleira precisa de bons parafusos e mãos francesas, a estrofe de 4 versos precisa de ao menos dois versos bem parafusados. A sonetista mexicana usou apenas a conjunção aditiva E (Y em espanhol) para iniciar outra oração. 






Curiosamente, o mais fingidor dos poetas usa tanto no verso 3 e 4 um recurso um pouco assustador. Fernando Pessoa coloca ponto final no sétimo verso do primeiro dos Thirty-five Sonnets. Isto inclui desenvolver uma nova frase no oitavo verso. But, why Fernando?





8. PEQUENA CHAVE DE OURO



Se o oitavo verso funciona como fim do desenvolvimento, o ideal é que abrigue uma pequena chave de ouro, um fim de refrão da música, um fecho. Raimundo Correa finaliza o 

soneto inspirado em Madame de Ackermann: 





A anáfora pode preencher as duas quadras e, consequentemente, o oitavo verso. Será um fecho? Tenho dúvidas, mas o verso 9 de Botelho iniciou uma conclusão…





Antes de proceder ao próximo exemplo, como você divide o soneto? Sistema quadri-estrófico, ou seja, quatro estrofes? Embora, Amorim de Carvalho (Problemas de Versificação, 1981: p.37-13) prefira a divisão de quatro estrofes, explica que dividir em 8 + 6 é uma definição que tem amparo técnico. Até porque existem (e veremos na próxima seção) o soneto inglês de divisão em oitava + sextilha. Há claramente um movimento nos quartetos e outro nos tercetos, portanto a divisão 8 + 6 é lícita. 


Mas, e se houvesse uma divisão 7 + 7? Afinal, são quatorze versos, número divisível por 2. Responsável pelo revival do soneto inglês no século XVIII, a londrina Charlotte Smith praticamente dividiu o texto em duas partes, até o sétimo verso enalteceu a Lua, tendo no oitavo verso explicado que o satélite pode ser um refúgio. Os outros versos seguem tal direcionamento (sistema 7 + 7): 



 



Este fenômeno de mudança de tom, esta espécie de giro de chave é chamado de volta. Chris Baldick (Oxford Concise Dictionary of Literary Terms. Oxford University Press, 2001, 2a ed.2001: p.239) descreve como uma transição da oitava à sextilha alterando o tom do texto. O dicionário Princeton (The Princeton Encyclopedia of Poetry and Poetics, 2012, p.1527) explica a volta pelo viés fonético, a troca de rimas e de esquemas:



A musical and prosodic term for a turn, particularly the transition point between the *octave and *sestet of the *sonnet, which, in its It. form, usually rhymes abbaabba cdecde : the volta is significant because both the particular rhymes unifying the two quatrains of the octave and also the *envelope scheme are abandoned simultaneously, regardless of whether this break is further reinforced syntactically by a full stop at the end of the octave (though usually it is), creating a decisive “turn in thought.” By extension, the term is applied to the gap or break at line nine of any sonnet type, though in the Shakespearean form, e.g.,the type of rhyming (*cross rhyme) is not abandoned at that point.



Mas a mudança de tom em Charlotte ocorreu precocemente, na oitava linha, uma prova do sistema 7 + 7.



9- A HORA DA VOLTA



O nono verso é, por excelência, o verso da volta. Gramaticalmente, a conjunção adversativa pode ser ótimo elemento de reviravolta como faz Camões, trata-se de um contraponto:






Muitos acreditam que o texto dissertativo-argumentativo está presente apenas em redações do ENEM e do Mestrado. No entanto, a tipologia textual da argumentação pode se manifestar na poesia como já vimos e veremos abaixo:




O baiano Gregório pede perdão a Jesus, mas usa uma ideia desafiadora para defender sua salvação. Uma argumentação forte começou no verso 9 para defender que o Bom Pastor não deve perder sua glória com a sua ovelha (chave de ouro do soneto). 


Como já foi dito no fragmento do dicionário Princeton, por extensão utiliza-se o termo volta para o soneto inglês, onde a volta não costuma ser significativa teoricamente. Mas é no nono verso que descobrimos que o soneto inglês abrange uma terceira quadra. O verso 9 é onde as duas formas de soneto se dividem.  A volta pode ser discreta na maioria dos sonetos ingleses, mas é nela que notamos que não estamos no modelo petrarquino. Para aqueles que ainda não notaram, é possível escrever soneto inglês em português e vice-versa:





Muitos conhecem Dante Gabriel Rossetti como expoente da Irmandade Pré-Raphaelita (Artes Plásticas), mas o desconhecem como o maior sequencista de sonetos. Em um de seus trabalhos, explica magistralmente como funciona o soneto e o fenômeno da volta. O fato de seu soneto estar dividido em duas estrofes (8 + 6)  facilita tal propagação. Ademais, o verso 9 começou com as mesmas palavras do primeiro verso e explica, à luz da função metalinguística, a diferença entre as duas partes do soneto. 





Nesta mesma linha, mas dentro da fôrma petrarquina do soneto, Rui de Noronha inicia o nono verso com a palavra oposta à primeira palavra do soneto. É o mesmo jogo de moeda que D. G. Rossetti faz. Além do mais, os versos 9 e 12 possuem o mesmo tipo de engenharia, o que logicamente favorece a conclusão. 






10- DISCRIÇÃO?


Creio que os versos 10 e 11 sejam bem difíceis de explicar. O fato de o final se aproximar naturalmente obriga tais versos a encontrar o caminho da discrição ou da sucção: o poeta deve guardar o mais impactante para os versos finais. Afinal, provavelmente o verso 9 já produziu uma tensão que não caberia tanto agora, a não ser a continuidade: 






O décimo verso de Lorca começa com o relativo donde, uma breve indicação de um lugar como partida e continuidade, é realmente uma ponte, uma ligação antes da chave de ouro. 




Pareceria consenso que a décima linha fosse transicional, mas algumas escritoras mulheres não pensam assim. Francisca Júlia insere uma rima rara no seu soneto mais conhecido chamando a atenção justamente para este verso:





A irmã de D. G. Rossetti, Christina Rossetti, declara amor à sua mãe no décimo verso do soneto mais maternal. É o centro de seu soneto, o momento mais importante:






A andreense Hermínia Lopes Lobo termina tanto o 10º como o 14° verso com a expressão grinalda linda fazendo um elo entre os dois elementos aparentemente iguais, mas completamente opostos:






O verso da autora de minha cidade chama bastante a atenção, somente pessoas pouco versadas na Teoria Literária julgarão o recurso como ruim e errado. Ao usar “grinalda linda” duas vezes, Hermínia explora as flores do casamento e do velório. 



11 - ÚLTIMA ESCOLHA DE RIMA



Como já mencionei, a proximidade com o final obriga os versos 10 e 11 serem mais contidos, discretos e simples, como uma ponte. Se o 12º verso introduz a chave de ouro e o 9º ostenta a volta, o verso 11 apenas finaliza o primeiro terceto do soneto petrarquino, é uma parte da conclusão. 





No soneto petrarquino, pode ser a última escolha de rima como o poeta campineiro abaixo faz:





12- O COMEÇO DA CHAVE DE OURO ITALIANA


É o primeiro verso da última estrofe do soneto petrarquino. Apesar de ainda desconhecer a origem do termo, a expressão chave de ouro significa uma boa finalização do soneto, até porque o 12° verso é o princípio da conclusão, é onde estruturamos uma frase que poderá ser decorada até finalizar no 14° verso. Muitas vezes inserimos adjetivos, adornos, orações para auxiliar na rima e na métrica.





A volta pode ocorrer no 12º verso, há uma mudança de tom somente na última estrofe do belíssimo (e desconhecido) soneto abaixo: 




No soneto inglês o verso 12 é o último verso do último quarteto. No soneto “de Ana Bolena”, Thomas Wyatt preparou os caminhos do couplet:





Tecnicamente, o 12° verso deve abrigar a chave de ouro apenas no soneto petrarquino. Mas é possível escrever sonetos ingleses com fecho petrarquino como acontece na primeira sequência de sonetos em inglês: 





13 - O PRIMEIRO DO COUPLET


O penúltimo verso do soneto é, indiscutivelmente, próprio de conclusão. Porém no soneto inglês é onde a chave inglesa começa. Chamamos de couplet o dístico, a estrofe de dois versos. A chave inglesa é rápida:





A puritana Anne Locke fez chave petrarquina no soneto inglês. E o inversi também acontece, Maciel Monteiro usa o verso 13 para introduzir uma chave inglesa:





Também o diplomata estudado na Inglaterra faz isso:





14 - O VENENO DO ESCORPIÃO



O tratadista Theodore Banville compara a presença do veneno do escorpião na cauda com a força do soneto em seu final. Portanto, o 14° verso costuma ser pesado, forte, impactante em relação ao resto do texto. (Quase) todos nós apreciamos a cena final do filme com um beijo duradouro e as letrinhas THE END. É isto que gosto, é isto que tenho por direito. 


Thomas Hardy observa um eclipse e deixa preocupação social no seu terceto, o texto finaliza com uma reflexão forte:





Talvez a última palavra do soneto seja a mais impactante, a que mais carregue o veneno do escorpião. O soneto abaixo é apontado como um dos primeiros em língua inglesa e possui uma palavra de mais de um sentido no último verso. Springs não significa apenas primaveras, mas também transpassa, explode além do conhecimento de que no século XVI significava uma dança típica da estação florida. No melancólico soneto de flores e animais, H. Howard produz plurissignificação na sua última palavra:






Uma palavra implícita ao longo do texto poderá ser a última, será o momento de explicitá-la. Ao longo de Celeste, a palavra santa não foi mencionada, apenas sentida:





A última palavra do soneto poderá ser palavra que significa raridade, nobreza, preciosidade como esmeralda. Em seu maior soneto, o cubano Heredia coroa o 14° verso com uma gema:





O 14° verso pode abarcar palavras de extrema força, medo, violência ou susto ou mesmo um paradoxo. O término do soneto também pode ser expresso por uma figura de linguagem que ainda não apareceu ou foi pouco usada. Ao dizer que não será casto a não ser por Deus violado, John Donne se consagra como maior poeta sacro: 





O português Júlio Dantas finaliza seu soneto com uma frase em francês (que é justamente a base para o título): uma ideia interessante e que impacta. 






Mais glorioso ainda é quando o último verso abriga rima rara ou palavra que ninguém imaginaria poder ser rimada: 





III - CONSIDERAÇÕES FINAIS


Na proposta original deste texto procurei citar sonetistas diferentes, variando o máximo o período e estilo literário evitando repetições, mas me vi obrigado a citar duas vezes Camões, Paulo Bonfim e Gregório de Mattos. Também quis evitar as sequências de sonetos pois tenho incertezas acerca da minha análise em sequências de sonetos. Em suma, não estou totalmente seguro de que haja uma norma tão lógica em sonetos gêmeos ou sequências, mas notei fenômenos em Dante Gabriel Rossetti e Anne Locke, daí os dois sonetos de sequência mencionados. 


Busquei em minha análise oferecer subsídios de Poemática a autores e leitores, mas especialmente a sonetistas pois noto que a criação em poesia erudita é ainda muito mistificada como algo inacessível e difícil sendo que ao bebermos da fonte do Cânone conseguimos escrever o que queremos, seja sonetos, terzinas, sextinas, trovas, versos livres, hai-cais etc


Rommel Werneck


REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).