Elegia Segunda
Dorme, sombria, a Lua no jazido
Coberto de mármore contrito e gelado.
A cidade dorme, o tempo está parado
E há poucos passos no espaço dormido.
O bosque de éter está envolvido,
A bruma percorre a dentro dos bordos.
Nas lápides cinzas dos corpos balordos
Caminha a Senhora Da Foice, divaga,
Percorrendo, álgida, a vivência vaga,
Dos humanos, tão frágeis tão fordos.
Nos redemoinhos, estacas e dentes,
Sobre a imensa batida de ventos e corvos,
Vai tragando a noite em divagos torvos,
Movendo os olhos de sevas serpentes.
E vai caminhando nos vãos corroentes,
Que correm as noites maciças de sangue.
E ela sempre vem: na floresta ou no mangue
Nenhum ser na Terra pode lhe amorar.
E está sempre em sua sombra a atalhar
Qual névoa que invade um campo exangue.
Mas está ao teu lado, a cronometrar,
Em seu velho relógio teu tempo de vida.
Pra bater o sino; e compor a partida.
E passas a vida a lhe esperar.
Eu também irei; eu não posso negar,
Um dia eu hei de dormir sobre o chão.
Vai haver a batida de um carrilhão,
Sobre o corpo que jaz em um sétimo dia
E todos hão de chorar a vida que partia
Ao som de um órgão com um cantochão.
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