Desafio proposto no mês de junho de 2024 girava em torno da epígrafe viralizada de Machado de Assis. Escrevem os poetas abaixo acerca deste tema em formas diversas.
VILLANELLA AO VERME
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)
De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...
Eu tratei sempre a tudo e a todos com desdém!
E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...
Sempre alheio a qualquer pensamento profundo
Nunca me interessei no que não me convém!
De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...
Encontro-me perdido em abismo sem fundo
Enquanto me preocupo e penso em mim, porém!
E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...
Meu vívido memento é vivo e moribundo
Momento em que descrevo a vida que estou sem!
De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...
Conhecido no mundo e esquecido em submundo
Solitário em que fico e avanço mais além!
E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...
Em um mar de ostracismo eterno, eu me afundo...
Para sempre, tornei-me em nada nem ninguém!
De iguaria és-me um verme a servir-me no mundo...
E igualar-me-ia o verme a um invólucro imundo...
(Bhrunovsky Lendarious)
-------------------------
DEDICATÓRIA
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)
Descido à cova, o corpo inerte meu
E os comensais, em tétrica
corrida,
Apetitosamente vêm, no breu,
Devorarem-me os restos já
sem vida.
Eu que vivi, de forma
decidida,
Sem religião, completamente
ateu,
Dedico a trajetória assaz
sofrida
Ao verme que primeiro me
roeu.
Aqui termina a insólita
vaidade,
Na morte que me ceifa o
orgulho vão.
Lanço-me ao nada sem
contrariedade.
Meu corpo dado aos vermes.
Pobre pão!
Sem Vida, sem Caminho, sem
Verdade,
Sem recompensa de
Ressurreição.
(Fernando Antônio Belino)
-------------------------
SONETO
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)
Dedico a minha plena perdição
ao amor que primeiro me tocou,
e depois, num triste ato, me lançou
sobre o nefasto fel desta ilusão...
Que sobre seu encanto me amarrou,
deixando-me em favor da tal paixão,
ficando apenas a desilusão...
e dela, agora, enfim, nada restou!
Neste abismo de dor, eu me afoguei
no mar do amor que um dia já sonhei,
amar e ser amado!... Deixo a água
invadir meus pulmões completamente,
pois jamais quero estar aqui presente...
num mundo que me trouxe tanta mágoa!
(Alexandre Toledo)
-------------------------
SEXTINA
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa Lembrança estas Memórias póstumas”. (Machado de Assis)
As tais lembranças do cadáver frio
que eu na lápide senti esse verme,
porém, se vivo à deriva, me esquivo
da cautela que o carma me previne.
Deparo no dever bem corrigido
o que, por erro, dado no existir.
Quando corrigido o ato no existir,
permite o darma no compasso frio
consequências úteis e corrigido,
e não seja roído pelo verme,
pois a cautela terrena previne
enquanto encarnado este corpo esquivo.
Se em nobre pensamento ainda esquivo
a ponto de viver bem e existir
com a temperança que o tempo previne
na permissão, temperamento frio.
Salvo corpo, salva alma deste verme,
regenerado neste corrigido.
Verve machadiana! Corrigido?
Na pena de Brás Cubas, não me esquivo,
sentida nesta epiderme entre o verme.
Pelos poros entrou para existir
um sentimento que fez quente ou frio
na poesia que melhor previne.
Poetar brilhantemente previne
angústia de Machado: corrigido...
até a perfeição: delírio e frio,
da máxima escrita, tal corpo esquivo,
com o belo d'arte n'alma existir
via cardíaca segue até o verme...
D’alma boa corpo vai imune ao verme.
Verve poética, que a dor, previne
na certeza dum eterno existir.
Rascunho feito fica corrigidos.
Eis o poema pronto, não esquivo,
seguir grandes vates no verso frio.
Eu na lápide senti frio verme.
Jamais esquivo, o carma me previne
corrigido tal erro no existir.
(Rogério Marques Sequeira Costa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário