domingo, 21 de novembro de 2010

BELÍSSIMOS POEMAS EM LINGUAGEM SIMPLES, MAS LITERÁRIA, OFF CORSE, MY HORSE!

Os poemas abaixo foram escritos numa linguagem simples, talvez num romantismo contido, porém não na mesma linguagem de Bilac e de Francisca Júlia que também sabiam escrever brilhantemente. Apesar da simplicidade, são obras literárias e não panfletos provando que é possível escrever de modo mais simples sem ser simplório, afinal, a linguagem denotativa tem que ficar lá nas bulas de remédio, receitas de culinária, críticas, textos históricos e informativos etc. Mesmo porque, uma literatura sem recursos é uma literatura analfabeta.


Agora vem a revelação surpreendente: o poeta abaixo é mulato e como o apedrejado e genial Cruz e Souza, não ficou inserindo reflexões panfleteiras em seu texto apenas por uma questão racial. Ao contrário do que pensa, Cruz e Souza escreveu sim algo social na literatura ( Litania dos pobres), como observa nossa leitora Pauline Kisner, historiadora e fundadora da Sociedade Histórica Desterrense. Além do mais, ele guardou  crítica para artigos de jornal que,  por não serem obras literárias, são menos conhecidos que seus majestosos sonetos.


Voltando ao poeta mulato gago e epilético da favela que hoje poderia ser taxado nerd, ficam aqui seus majestosos poemas e quem desejar ler suas críticas sociais inseridas em sua literatura, basta ler Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, seus contos e tantos outros romances e verá que é possível sim apresentar críticas políticas sem ferir o esplendor estético, mas há autores que preferem tratar outros temas que possuem a mesma importância que os sociais.




A uma senhora que me pediu versos


Pensa em ti mesma, acharás
Melhor poesia,
Viveza, graça, alegria,
Doçura e paz.


Se já dei flores um dia,
Quando rapaz,
As que ora dou têm assaz
Melancolia.


Uma só das horas tuas
Valem um mês
Das almas já ressequidas.


Os sóis e as luas
Creio bem que Deus os fez
Para outras vidas.




A vassalagem amorosa é um tema sempre atual, a combinação de redondilha maior com tetrassílabos poderia ser usada mais vezes.





Livros e flores


Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?


Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?




Isto que é poesia concisa e não os "haikais" que circulam por aí sem ser.  São apenas duas estrofes, mas genialmente compostas. Reparem na leveza das seis sílabas.




Carolina


Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.


Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.




É certo de que existem escritores que, numa preocupação tumultuada com a isometria, produzem péssimos decassílabos, mas Machado produziu algo belo e diferente, notem a criativa  associação das flores com a terra que viu o casal viver junto e agora, separa os dois pela morte. 


Meu poema favorito dele se encontra abaixo. O final apresenta raciocínio e o bom uso do elemento céu.




Quando ela fala




She speaks!
O speak again, bright angel!
Shakespeare


Quando ela fala, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.



Meu coração dolorido
As suas mágoas exala.
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.



Pudesse eu eternamente
Ao lado dela, escutá-la,
Ouvir sua alma inocente
Quando ela fala.



Minh'alma, já semimorta,
Conseguira ao céu alçá-la,
Porque o céu abre uma porta
Quando ela fala.



MACHADO DE ASSIS

5 comentários:

Marcel Angelo disse...

Compor om versos simples, de certa forma, é mais difícil do que escrever de modo como se é habituado.
Quando um autor consegue tocar um público enorme,é ai que ele é realmente bom. Os sonetos de amor de Camões?
Se pudesse postar um álbum para o blog, enviaria o álbum cantoria, com Elomar, Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo. Violeiros exímios, tão brasileiros e por isso mesmo, são de remontar mais além que a origem de nossa língua. Trovadores,Repentistas, Violeiros...

Febo Vitoriano disse...

Geleiras, vc precisa conversar com o Gabriel. Ele coordena uma coluna chamada Na Vitrola aqui mesmo no blog e já escreveu sobre o Elomar que o Boi e eu gostamos, mas os dois são fãs de carteirinha, viciados meeesmo!

Quanto aos textos do nosso grande poeta, eles servem como resposta para tantas pessoas que são favoráveis ao processo de desintelectualização que tanto abomino.

A coisa mais bela que Deus fez em mim foi a racionalidade, o que me separa dos outros animais. Para viver plenamente minha condição humana neste poder tão divino, eu me aventuro e estudar, pesquisar seja Moda, Literatura, História, Artes etc.

Discordo deste povo preconceituoso e marxista cultural que fica dizendo que Cruz e Souza era alienado por ser negro e não tratar temas políticos em seus textos e por ter escritos sonetos belíssimos numa linguagem ricamente bordada. Porque ele não poderia ser culto? E Machado? Porque não poderia também.

A sabedoria é o mais belo dom que temos, é a única coisa que levaremos desta terra e não a terra que tantos brigam condenando sua propriedade.

Quanto a escrever em versos simples, realmente é mais difícil.

Prof. Francisco Castro disse...

Não entendo bem de poesia e pouco leio poemas. Mas sempre gostei da cadencia da poesia embora tenha me acostumado a ver poema como sinônimo de rima. Gostava muito de ler trovas. Estou descobrindo este mundo encantador da poesia graças ao Rommel que me está conduzindo com presteza a ver o imenso valor deste tipo de literatura. Espero tornar-me um genade leitor de poesias belas como as publicadas.

Febo Vitoriano disse...

Na verdade, caro amigo, há belíssimos textos em versos brancos, isto é, sem rima.

A rima, assim como o metro do poema deve ser adequada à necessidade. Se o autor julgar a rima necessária e graciosa, ele a utiliza.

Claro que existem formas que o uso parcial ou integral da rima é necessário como o caso das trovas tradicionais, aquelas de 4 versos somente.

regina ragazzi disse...

Semprebomler Machado de Assis... Abraços!!

REVIVALISMO LITERÁRIO


Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:

* Promoção de Revivalismo;

* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;

* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;

* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;

* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).